UMA TARDE NA PRAIA




         Caminhava na praia e pensava sobre sua prova. Será que tinha sido bem sucedido? Perguntava-se sobre se ela pensava nele. Será que ela ainda lembrava-se dos passeios de mãos dadas na praia no verão passado? Será que ela desejava tanto quanto ele estar juntos de novo? Será? Esta era a palavra de ordem em sua vida há um tempo.
         Talvez fosse tolice sua acreditar que ela o estava esperando. Talvez ela nem sequer lembrasse mais dele, seu sorriso perturbava agora sua memória, o som de sua gargalhada o invadia violentamente, ele quase podia senti-la ali, caminhando ao seu lado. Ele em seu louco devaneio, ocasionado deveras pela saudade que sentia, pensou vê-la ao longo da areia da praia. Ela sorria e brincava com as ondas... Parecia um teatro perfeito entre ela e as ondas que estavam ficando gradativamente agitadas. Ele sentia um perigo se aproximar de sua amada, mas não podia ajudá-la e ela aos poucos ia se perdendo, desvanecendo-se diante dele, sem que ele pudesse impedir.
         Desespero tomou seu peito em revoada e seu grito já não era natural, sua própria dor já não era mais natural... Ela estava partindo, as ondas ferozmente a levavam, era como ela fosse propriedade do mar e ninguém pudesse questionar isso. Ele estava impotente! Nunca em sua vida havia sido tão difícil deixar de agir, apenas aceitar o que via e seguir em frente. Ele sentia-se desnorteado, incompleto, como se uma parte importante dele tivesse o abandonado naquele dia.
         E hoje estava ela nos braços de outro... Bebendo do mel de outro corpo, experimentando outro sentimento e ele estava ali tolamente ainda sentia saudades. Queria não sentir nada. Queria olhar para o mar e apreciar as ondas sem lembrança alguma daquela mulher, queria poder apenas contemplar e esquecer tudo que passou tudo que já havia vivido, mas que sabia deveria ter sido enterrado. Ele tentou, é verdade! Mas aquele amor que já era meio instintivo,animal, inconseqüente e adolescente quando estava do seu lado agora o inundava com mais força, voltava a ele como navalha cortando por dentro seu peito apaixonado. O mar sempre tinha sobre ele o mesmo efeito... Sempre lhe trazia nostalgia e morosidade. Dúbia era sua idéia de vazio, porque ele negava-se a aceitar aquela dor que lhe sobrevinha de modo tão inesperado e se apossava dele deixando-o entristecido.
         Caminhar na praia! Condenava-se agora por ter tido aquela estúpida fantasia. Por que ele, um homem tão elegante e experiente tinha que passar por uma situação daquelas? Por que ele tinha que caminhar sozinho por aquela praia que outrora lhe fizera tão feliz? Por que afinal a mulher que ele amava o deixara? Por que ele tinha que criar uma fantasia de que o mar a tirou dele para poder seguir, se conformar? Por quê? Que vida era essa afinal?
         Chegava às dezoito horas e ele ansiava por abandonar aquela fria areia que tocava seus pés... Mas não podia, aquele mar fazia parte dele agora, ele conhecia sua dor e seu sofrimento, ele o escutara chorar, o tocara docemente tentando lhe dizer que ia passar... Ele fora seu amigo, seu conselheiro, seu confessor. Ele havia sido mais do que qualquer outro.
          Ela o havia abandonado, ele detestava admitir isso, mas agora já não importava nada mais importava. Ele não podia fazer o mesmo que ela havia feito... Não poderia deixar para trás aquele que o apoiou e o tranqüilizou em sua dor. Não poderia deixar de lado, dizer adeus aquele que o acolheu dilacerado e o remontou, o reconstruiu, aquele que pacientemente o ensinou numa tarde, coisas sobre a vida, que ele mesmo sentindo-se preparado não havia ainda entendido. Não poderia deixar jamais aquele mar para trás!
          Ele entendeu que culpar o mar não era racionalmente plausível. Entendeu que amar aquela mulher como ele amava não era um castigo, era uma benção porque isso mostrava sua capacidade de amar incondicionalmente, sua enorme vontade de ser feliz, vontade louca de viver um grande amor!
          Aquela tarde o havia ensinado muito, aquela praia o havia feito sentir um homem só é verdade, mas agora ele era um homem mais maduro, mais saudavelmente apaixonado, pensava que poderia amar mais uma vez. O silêncio das ondas lhe aplaudiam, e seu choque com as rochas o fazia desejar um abraço bem apertado... Queria não estar sozinho, mas estava e tinha que aprender a conviver com isso! A saudade do amor trazia-lhe aspiração de amar novamente e quem sabe se arriscar mais, se declarar mais, se apaixonar mais... Quem sabe, pensava ele. Sentia agora no fim da tardinha que aquela praia que inicialmente o torturava, agora o acalentava e lhe sorria calmamente, era como se lhe dissesse que um novo amor já estava chegando e que ele bastava apenas ter sensibilidade para enxergar.
          No intimo ele sentia medo de errar, de não enxergar, de deixá-la passar sem reconhecê-la. Ele devia saber que este medo é compartilhado por todos que querem um grande amor e que acreditam que mais cedo ou mais tarde ele chegará. Também eu tenho este medo!
          Ele tinha uma segurança agora em seu peito. Algo lhe apontava uma saída certa...
          Seu relógio despertou de repente e ele acordou de supetão com o sol da manhã que tocava sua pele morena de modo sinuoso. Dormira nos braços do mar... Dormira no seio daquele que o havia devolvido-lhe a razão de viver...
Agora tudo seria melhor, agora ele seria feliz. Mas e quanto à prova? A maior prova que temos é viver! Se dermos conta disto, o resto é fichinha. Ele sorriu ao pensar nisso e apanhando seu paletó seguiu em frente brincando com as ondas que tocavam nos seus pés...
                                           
 
Maria José C. de Oliveira (25/05/2011)

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