OS NOIVOS

        Vasculhando meu e-mail outro dia encontrei nos meus rascunhos aquela velha historia... Bem do fundo do baú. E lembrei-me de você e de nós... Na verdade, lembrei-me de tudo!
Rascunhos...

Abril de 2010,

Se eu não escrever eu morro...

   Você era noivo dela, e eu noiva dele. E finalmente estávamos naquela sala, frente a frente, íamos resolver toda e qualquer dúvida toda e qualquer pendência... Íamos decidir juntos nossos destinos e o deles. Ninguém planejou aquele encontro casual, mas eu estava lá e você estava lá... Ambos na mesma cena. E não dava pra fugir da verdade, da conversa que sempre fora adiada até ali e da ‘coisa’ que existia em nós. Tantos anos, aliás, alguns anos, não foram tantos, e você e eu sempre deixando passar aquilo que gritava em nós, sempre deixando pra lá, pra quando fosse mais conveniente sentir... Ficou para o nunca.
 
   Eu comecei... Sempre me coube essa árdua tarefa de começar milhares de vezes em milhares de momentos com milhares de pessoas, e com você não foi diferente, talvez devesse ser, mas não foi. E iniciei falando sobre o que estava sufocando minha alma. E você sorri simpático, empático, diz que pode entender o que digo. Isso me anima a continuar abrindo minha alma e meu peito pra você, já não há tempo para meias palavras, nem para ocultar emoções. Aquele era o momento final, o sim ou adeus pra sempre. Quem decidiria? Eu ou você? Perguntei-me isso em algum momento enquanto jorravam pelos meus lábios as verdades guardadas. Sorri feliz por sua compreensão. Sua partilha de minha angustia me fez sentir confortável com seu olhar penetrante me impondo uma confissão inteira, detalhada. Estava disposta a seguir, até o questionamento final. Onde finalmente poríamos todas as cartas na mesa. E tudo ficaria bem. Perguntei-me se estávamos cometendo um grave pecado, sendo noivos de outros e estarmos resolvendo algo eternamente pendente entre nós. Mas, não era pecado, aquele momento foi vivido por uma situação forçada, não marcamos aquela conversa, nunca a marcaríamos mesmo por nós mesmos.

   Mexia nervosamente na sua aliança no dedo. Também mexia na minha. Pareciam nos incomodar, ambas. Era um laço, e tinham eles. E tinha eu e você nos olhando, já sem palavra alguma, só com olhos e lábios silenciosos fazíamos juras eternas e proibidas. Era um começo ou um fim? Um reencontro ou uma despedida? Não dava mesmo a esse ponto para saber. Mas, no seguinte momento tudo se clareou. Exposto o sentimento, resolvido às culpas, iniciados os rituais, estávamos seguindo caminhos diferentes e para um de nós era muito tarde para voltar, salvar ou viver algo diferente do que se expunha ali.

  Lembro-me que retirei minha aliança e disse firme, com certa esperança de felicidade ao teu lado:

   -Isso pode terminar agora.

  Você estava sério e meio cruel quando disse com a mão sobre a sua aliança ainda no dedo:

   - Não dá.

                                                                                     ****

    E tudo morreu ali. Naquela sala, onde nasceu tudo, morreu tudo. Levantei-me pálida e perdida e segui por aí... Segui sem destino.

   Ao final as lágrimas caiam... Eram lembranças que doíam demais... Não tinha enviado pra você, nem pra ninguém. Aquilo tinha sido um dor somente minha, até passar. Mas, agora ardia no peito sua resposta. E percebi que mesmo depois de tanto tempo eu ainda estava meio perdida sem você.


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