-O AMOR DE TEREZINHA

A gente se separou nem lembro porque, assim como também não lembro porque ele casou com outra e eu casei também um pouco mais tarde, depois de ter tido uma filha avulsa de um curto relacionamento fracassado. Não lembro bem se ainda pensava nele, mas acredito, mesmo duvidando que não. A única coisa certa era que ele havia sido o único que meu coração já amou. Naquela ocasião eu era viúva de um bom homem que viveu comigo até o último suspiro, e apesar de não nos amarmos, sempre nos respeitamos muito... Mas, hoje certa farmacêutica ouviu com bom ânimo minha história e nem me falou, mas sei que gostou, acho que ela viu nos meus olhos o tamanho do amor que sinto, ou talvez tenha notado o sorriso bobo ainda, apesar de todos esses anos, toda vez que eu falava o nome dele. Acho que se fôssemos falar de pontos altos na conversa, o momento que disse que ele é ‘meu amparo e que jamais até hoje me havia falhado’, foi quando ela mais pareceu tocada.
Estava na loja, trabalhava com meu esposo num loja de peças de motos e naquele dia ele havia se ausentado para pagar uma conta de luz, assim estava sozinha no atendimento quando abaixei para pegar o bloco de notas na gaveta 5 de uma armário de aço cinza que tínhamos, com 8 gavetas que não fazem a menor diferença nessa historia, enfim, quando um moço disse sorridente ‘Moça, você poderia ver pra mim o orçamento dessas peças, vou fazer uma cobrança e volto já’, largou o papel e quando dei por mim ia saindo do estabelecimento e reconheci-o, mas implorei a Deus no fundo da d’alma que ele não o houvesse feito. E não fez, tinha pressa demais na ida porque da volta não escapei do sonoro e feliz “Tetê é você! ’, corei, acho que morri um pouco naquela hora, meu esposo havia sido traído 8 vezes que como o numero de gavetas é mera coincidência e nada te a ver com essa história, bom o fato é que sua cisma era grande demais para aceitar um estranho feliz por ver sua esposa, pedi que saísse e não voltasse mais ‘não quero problemas’.
Muito tempo se passou e nada mais soube daquele que havia sido o amor da minha vida e que não poderia deixar de ser, mas também não podia ser. Até que certo dia eu acordei viúva e sozinha... Soube que a mãe dele também havia morrido. E passado mais alguns meses encontrei com sua irmã que ao saber de minha tragédia sorriu animada e disse de supetão ‘Vou contar para Carlinhos’, ‘Não faça isso, só quero paz’, isso porque estava ciente de que era um homem casado, o que poderia me oferecer? Deixei essa história guardada na 3ª gaveta daquele armário do inicio da história que também não tem importância, o que importava mesmo era que aquela gaveta era um símbolo de tudo que tinha vindo do passado, era recente e precisava virar passado novamente.
Em outros tempos, soube que também ficou viúvo, mas ignorei essa parte porque não me convinha ter nenhuma esperança, apesar de amá-lo, o que óbvio que parecia ridículo já que havia sido um namorado de infância e eu nem lembrava o porquê de termos terminado. Mas, um dia no estabelecimento, já de saída para casa de mamãe, para um moto da energiza e um motoqueiro de capacete declara que vai cortar minha energia, fico furiosa ‘Não tenho contas atrasadas moço’, ele em tom imperioso ‘ mas, vou cortar mesmo assim porque é meu trabalho e consta uma pendencia’, pois, respirei fundo e zangada gritei ‘se vai cortar, corte e vai se vê comigo’. Ele então tirou o capacete e sorriu brincalhão, como se aquilo tivesse tido alguma graça, ‘Não sabia que ainda era brava assim’...
E pronto, foi nosso reencontro. Hoje, já velhos, com netos, bisnetos, e doenças, só o que podemos fazer é cuidar um do outro porque isso é amor...


Dedicado ao amor de Dona Terezinha (01/07/16)

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