...O AMOR



‘ Quem irá dizer que não existe razão nas
 coisas feitas pelo coração? Quem irá dizer?’
( Renato Russo- Eduardo e Monica)

Ainda dormia em plena terça as dez quando meu celular me desperta com sua ligação. Uma surpresa, um atender sem preparação e aquele sotaque novo e encantador me dizendo ‘oi’. ‘Bom dia? Como está’... Memória curta essa minha, não lembro se dei bom dia. Espero ter dado, uma sensação de estupidez me tomou e certo vazio. Queria ter sido gentil, mas acordando sempre foi meio complicado para eu ser simpática ou pelo menos feliz. Mas, eu sorri, e disso eu lembro. Com certa felicidade infantil de ouvir sua voz e também de estar mesmo acordando... ‘Não quero incomodar’, você disse mesmo isso? Não me incomodou, será que eu fiz pensar que sim? ‘Que droga’, penso chateada comigo. E depois de algumas palavras, você sem graça, parece ir embora, tem a pressa que já não tenho e me desconcerta. Mas, seu gesto, sua gentileza permanecem respiráveis no ar do meu quarto frio e de algum modo findam por aquecer um pouco o meu coração birrento.
Depois rapidamente me desfaço dos lençóis e do sono da noite anterior que se espalhou mornamente pela manhã. Há tanto para fazer! Deus do céu, inevitável não imaginar a catástrofe de você não ter ligado e não ter me acordado... Sorrio, um riso intimo e leve, uma prece singela em homenagem a você. ‘Salvou meu dia’, esse pensamento consola-me e me dá certo animo. Vou ao banheiro e olho-me no espelho como se procurasse algo familiar em minha face além dos olhos inchados e o cabelo bagunçado. Mas, não há nada e sinto certa estranheza. Escovo os dentes e vou à ducha... Agua fria! Resmungo enquanto sinto-a tomar-me por inteiro e fazer-me tornar parte do nada. Gotas fortes que caem sobre o invisível!
Sigo para cozinha com minha caneca em mãos, busco com certa pressa, até habitual em mim, a cafeteira e preparo meu café, ‘um livro’, noto que esse pensamento anda comigo associado. Acabo, enquanto encho minha caneca de leite e café lembrando que preciso comprar algo novo para ler, sinto-me bem de pensar isso e isso também me lembra de você. ‘Espero merecer uma boa conversa com você’, e é impossível não pensar em suas ocupações e sua voz no telefone a me acordar... Sigo com minha caneca na mão, olho-a distraída e suas listrinhas coloridas, lembram-me a minha amada mãe (rsrs) roubei dela aquela caneca que tanto gosto. ‘Você levou minha caneca não foi?...Saudade de minha mãe...
Então na cama com os pés entrelaçados, abro o notebook, sob o colo, ansiosa, um rebuliço no estomago... Você escreveu para mim e fico adiando essa leitura como adio abrir um chocolate... Certo receio de que aquele momento se perca e eu o retenho o máximo que posso... Mas, aí eu termino cedendo ao meu desejo de saber o que há lá e leio... Aprecio, devoro. E devoro, e devoro para sempre!


(Dedicado ao cronista mineiro Marcelo César Silva)


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