CARTA DE UMA SOLIDÃO
Não sei aonde que anda
minha paz... Estes dias a vida tem me deixado meio aflita e triste. Vou
contar-te como as estações fazem toda a diferença em minha vida. No verão vêm
os amores, no inverno a solidão, no outono a esperança, e a primavera, esta daí
não alcançou meu coração ainda...
Eu sou jovem, é uma
verdade que alegra e mesmo assim não é suficiente para arrancar de mim um
sorriso. Por que isso? Porque apesar de tudo há um vazio indefinível dentro de
mim... Este vazio é algo que de algum modo já esta comigo desde que me entendo
por gente, não sei se pode entender. O que acontece dentro de mim é que nem
mesma eu sei muito sobre mim. Às vezes, faço e digo coisas que não fazem parte
de minha alma. Digo-as por alguma razão no meu intimo, às vezes, nem meço a sua
abrangência, nem o estrago que pode causar. É inconsequência linguística,
imaturidade, não sei bem, um pouco de tudo isso. O que senti há pouco é que
realmente não sei se há volta para o caminho que tomei algum dia. Prendi-me
numa redoma, inventei um mundo só meu somente sai dele algumas vezes, por
alguns sonhos, por amor... Todas as vezes que arrisquei ser eu mesma neste
outro mundo ao qual não pertenço, saio meio torta, meio sem noção, meio sem
saber como agir com a realidade que não posso mudar e moldar. Não pertenço a
este povo, ou não pertenço a este lugar. É assim que sinto. É assim que é...
Ando meio vagueando, perdida mesmo, tenho muitos medos, é verdade, mas
consciente de que alguns deles são vãos eu caminho sozinha por essa estrada
esquisita e feia que me coube. Não sei realmente se eu a escolhi, mas acho que
ela é UMA única saída que se me apresenta todos os dias pela manhã. A primeira
imagem que vejo é o vazio que me acompanha ao levantar e ao deitar... Não sei
se alguém poderá quem sabe um dia, entender que tipo de coisa se passa dentro
de mim. Também não me importo muito com isso, afinal que diferença fará para
mim a opinião de alguém que pertence a esse ridículo mundo falso? De que valor
tem para mim o sorriso de um amigo que faz parte desta sujeira hedionda que
ronda este planeta? É isso que ouço, varias vezes, repetir-se dentro de minha
cabeça. Imaginar que os outros não prestam e que nem me fazem a menor falta é
apenas meu modo de sobreviver. Eu não vivo tentando ferir os outros, mas o
faço, faço sim! E apenas o faço porque tenho de sobreviver, afinal este é um
Mundo de feras, também tenho de ser fera, não é o que diz Augusto? Acaso ele
mesmo não foi fera? Por que seria diferente comigo? É verdade que poderia ser
diferente, mas não foi! E que culpa, eu, tenho por isso? Acaso escolhi ser
fera? Acaso não foram os outros que me transformaram nessa ‘ triste fera’ que
sou?’.
São inseguros meus
passos, são frágeis as minhas mãos e meus olhos, de naja, são sutis, são minha
perdição. A culpa não é dos outros, e sim dos meus olhos. A culpa é somente
deles! Quem os manda ser assim? Quem os induz a revelar-me sem que eu mesma o
faça? Não! Eu não poderia julga-los, penso que eles andam por aí, tão perdidos
quanto eu mesma, tentando liberta-se de mim. É. Eles buscam a liberdade de dias
que não conheço. Buscam a verdade dos outros revelando a minha verdade. Buscam
a riqueza das almas, deixando como objeto de barganha a minha própria riqueza.
Levam tudo, nada me resta. Sou traída pelos meus olhos que me são a perdição.
Não há olhos ou boca, ou coração que suporte a miséria das almas humanas que
nos cercam. A ignorância de sonhos que serão somente sonhos, por covardemente,
nem sequer acreditarem que podem ser reais. Sou covarde também, mas estou aqui
admitindo, isso já se torna em mim uma virtude. Mas, e aqueles com quem tenho
de lidar todos os dias, acaso eles não são mais covardes do que eu mesma? Acaso
sou eu que nego, que fujo e dou desculpas, que tenho medo de acreditar no amor?
Acaso sou eu que não sei dizer não, quando isto é, no mínimo, necessário?
Disse para mim mesma que
estou farta! E é isso! Estou farta de tudo! O que fizeram com minha alma? Por
que me feriram a ferro e fogo? Por que doí tanto acreditar de novo e errar de
novo? Dói. Logico que dói. É que é muito fácil olhar para alguém e dizer que
você o ama. Não, você não se importa. Já se pegou questionando o que houve com
aqueles que você disse que ama? Não? É que você apenas diz e vai embora. Nem se
pergunta ‘ Será que ela ou ele acreditou? E se acreditou, como viverá agora,
que estou indo sem aviso prévio’? Tenho sim consciência de que um aviso prévio
não minimiza dor alguma. Mas, pelo menos abranda a dor da espera, afinal por
que esperar por alguém que não vai voltar? Por que amar alguém que diz uma
coisa hoje e amanhã não é sequer capaz de dizê-la novamente ou mesmo
desdizê-la? Se bem que desdizer é muito estranho. Não se pode desdizer algo,
mas você pode ‘ voltar atrás no que disse’, ou dizer o contrario, ou corrigir o
que disse. Não! Não tente justificar o porquê de ter dito, nem tampouco a razão
de estar me olhando nos olhos e, com ar de sincero, desdizendo tudo. Quer saber
qual a sensação que tenho passeando dentro de mim com essa sua atitude bondosa
de me poupar, alias, se quis me poupar por que não o fez antes de dizer o que
disse e iludir-me com essas ‘tranqueiras’ de amor? O que sinto é muito parecido
com o que se sente quando se está do lado de um precipício e o seu MELHOR amigo
do nada o empurra com força para baixo, desejando, e você pode ver nos olhos
dele, o seu fim. È que também eu estava à beira de um precipício e graças a
você, eu caí nele de uma vez! Destruí-me e a culpa é sua! Por que resolveu me
salvar na ultima hora? Acaso não sabe que nada, ouça bem, nada pode ser mais
cruel do que salvar alguém de um fim digno para depois sujeita-lo ao abismo do
desprezo? No poço em que me afundava estava abundando a todos a minha
‘gloriosa’ partida, enchia-lhes os olhos de prazer, eu podia sentir, mas tinha
de haver alguém como você no meio da multidão, que se apercebendo de minha dor
veio ao meu encontro e ‘abraçou-me com belas promessas de felicidade’ para
posteriormente ser a mão que me empurra ao nada. Não compreendo. Por que não
deixou tudo como estava? Por que tinha de querer carregar em suas costas este
mal? Deixasse que me afundasse e pronto. Ninguém tinha nada a haver com aquilo,
nem você! Então para que intrometer-se e apunhalar-me quando já sonhava com
libertação? Não sabe! Sei que não sabe... E daí? Não me importo! Você também
não se importou antes por que se preocuparia agora? Viva com essa culpa! Ela é
meu presente de despedida para você, meu bem!
Eu vou embora, vou sim!
Mas, antes me indignei a esclarecer as razões pelas quais devo partir, não! Não
morra de inveja da minha atitude, você não poderia mesmo fazer ao menos isso!
Custaria demais para você dizer a razão pela qual foi se adeus, ou com adeus,
sei lá! Não me importo! È verdade que ainda eu o quero, mas se não dá, não dá e
pronto. Para quê vou ficar insistindo em uma coisa dessas, atoa. Não... Eu vou
agora e vou sozinha!
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