A MULHER DE BRANCO

   
 Pensava distraída nas adventuras sofridas por sua amiga Rafaela. Como poderia uma mulher ser tão forte e suportar com tanta valentia a perda do maior bem que alguem tem na vida que é o amor??? Ela mesma se estivesse no lugar da outra ficaria desvairada, louca de pedra, totalmente sem sentido. Sabia que o sentido real de sua vida, apesar de não menciona-lo a ninguém, era tê-lo ali do seu lado sempre. E agora que sua amiga sofrera esta perda, veio-lhe de repente uma insinuação sombria de que nada dura para sempre. Isto sim a assustava muito. A ideia de acordar um dia e saber que ele não estava lá era tão estranha como se alguem dissesse pra ela que o sol nunca mais sairia e que viveríamos todos em sombras eternas. Era absurdo demais! Absurdo e triste. Na verdade, desde que ele viajara sua vida esta tão monótona. Não é que ele viva a seus pés, mas sabe-lo distante a deixa risonha. Quando ele esta por perto tudo é mais colorido... Estava absorvida por seus pensamentos românticos quando ouviu a bater de palmas na sua porta e adiantou-se para ver quem era. Sabia que ele ainda não viria e mesmo assim seu coração imaginou ouvir a sua voz ecoando lá fora. Claro! Ela estava enganada e seu coração exalava agora o ar de ansiedade pela volta dele, tanto que se podia ver em suas faces a amargura e desagrado com o qual abriu a porta a este visitante, no minimo, inesperado.
 - Olá! Senhora Flor, estou surpreso de vê-la tão deslumbrante como de costume, parece-me que  o tempo caminha a seu favor.
  - Deixe de seus galanteios tolos e diga-me o que deseja. Sabe que não és o que mais gosto de receber em minha residencia, não?
- Como esta grosseira hoje esta linda dama! Trate-se de acalmar. - Disse em tom ordeiro enquanto adentrava no seu lar.- Estou aqui por razões de paz, minha cara senhora!
- Pois, desenvolva logo sua prosa e trate de partir, nunca será de fato bem- vindo.
- Pois, já não disse que tenha calma, de pouco a pouco a senhora perceberá que mesmo quando errei tive somente as melhores intenções.
- Pois, sim? Não creio em suas lorotas e espero que não me venha com uma de suas armações ridículas.
- Aonde esta o seu excelentíssimo esposo minha dama?
- Ora, então não sabes? Ele está de viagem. Mas, adianto-lhe que voltará em breve e mais ainda ele também não é nada condizente com suas gracinhas.
- E verdade! E sua mãe, esta por ai?
- Não sei que interesse pode você ter por minha mãe! Não sei que tem assunto pendente com ela não!
- Nervosa demais por meu gosto! Acalme-se e responda, onde ela esta?
- Com umas amigas no terraço... - Sentiu um calafrio percorrer-lhe todo o corpo...- Mas, o que quer afinal?
- Quero pedir-lhe um favor pessoal. E já que esta praticamente sozinha neste casarão, tenho certeza de que me atenderá de bom grado.- Soava um tom de ameaça.
- É muito pouco provável que tal coisa se suceda. Já disse que de minha parte há somente dissabor com relação a sua pessoa e todos os seus assuntos pessoais!- Estava furiosa.
- Primeiro vamos entrar porque não acho de bom tom deixar uma visita ilustre como eu aqui na varanda. Mereço um cafe quentinho e bolo, hum, de laranja por favor.
- Você está louco! Saia já de minha casa! Não é bem-vindo por aqui!
- Esta bem, pode ter sido ousadia, mas eu tinha que tentar! Olha, vamos ao que me interessa... Tenho uma prima que veio com o circo e procura uma casa onde empregar-se, poderia recebe-la um dia desses???
- Pois, se é moça honesta e trabalhadeira, mande que passe aqui e verei o que posso fazer. E se era somente isto, vá-se embora que sua presença me constipa.
- Hum, sendo grosseira de novo. Vê-se que quem nasceu pra escravo nunca chegará a majestade!
- Vá embora! Esta me ofendendo! 
- Sabe o que merece senhora?
- De você nada! Quero que suma e me deixe em paz. Você casou a morte de minha querida amiga, e nunca gostei de sua presença em nossas vidas.
- Por que não?
- Sinto que tem inveja de meu marido e que esta planejando algo horrível para machuca-lo.
- Mas, que boa intuição a sua Flor! - O sorriso irônico e malvado dele ressoo alto por todos os lados.- Vou-me agora e saiba que talvez nunca mais verão um sorriso no rosto do seu maridinho burguês.
 - O que pretende seu crápula? Você não me assusta! Não vai conseguir alcança-lo nunca seu fracassado!
- Se eu fosse você escreveria uma ultima carta para ele! Diga que o ama pela ultima vez, ao menos não dirão que eu fui cruel com vocês!- Disse isso e dando as costas se foi sem olhar para trás.

  Por alguma razão desconhecida, ela resolveu sem querer escrever uma ultima carta. Falou-lhe de toda saudade que sentia, da vontade de estar do seu lado e do quanto ela o amava e que seriam felizes se não aqui num vindouro paraíso! Sentia medo de perdê-lo! Ou de perde-se dele... Ela enviou-lhe a carta e uma grossa lágrima quente escorreu-lhe pela face.

   Alguns dias depois ela voltava para casa, estava linda com os longos cabelos pretos soltos ao longo do corpo, um vestido branco de cetim com bordados a mão, sua faces reluzentes ao sol a deixavam estonteante. Ela tinha ido ao médico. Estava num êxtase de felicidade porque acabara de saber que estava gravida. Nossa! Nem podia lembrar o quanto desejaram aquele milagre de serem  pais! Ele então, não se conteria e choraria de alegria, pensava ela... Sorria distraída quando do nada algo a acertou em cheio, manchando de vermelho a sua vestes e deixando-a caída ao chão...Alguem a ferira junto ao peito e seu estado era muto grave! Uma bala perdida? Não! ELE, aquele homem traiçoeiro tentara mata-la...
      Somente mais tarde veio-lhe a terrível noticia...
    E de certo modo ele conseguiu atingir seu objetivo! Estava tão abatida por seu bebe. Queria tanto aquele corpinho pequeno junto dela, junto do seu seio materno! Ele a matara! É verdade que acabara de descobri-lo  e perde-lo a deixara também perdida. Era um vazio de dor e ela finalmente entendeu sua amiga. Ela foi forte pra sobreviver ao vazio que fica quando uma parte importante de nós nos é arrancada... O silencio a acolhera e agora nos braços do seu amor, estava mais tranquila, havia um vazio, seu ventre estava tão vazio!