DIAS CHUVOSOS
A chuva tinha para mim um
significado especial... Por muitos dias me lembrava ela... Seu sorriso e seu
canto febril. Minha sereia encantada, minha eterna rainha de fogo. Era um sonho
até que acordei. E naquele dia despertei em meio à tempestade na praia, naquele
dia de tormenta, eu odiei a chuva. E sempre que chovia me escondia nos lençóis
e tapava com força os ouvidos, preferia ouvir o zumbido que roncava ecoando em
mim do que aqueles pingos cheios de lembrança batendo na minha janela. Era
tortuoso pra eu saber que chovia sem ela do meu lado. E doía muito saber que
tinha acabado e eu também odiava os sonhos por acabarem e deixarem tamanho
vazio. E odiava ela por ter feito acabar e como uma visão fantasmagórica ficar
me assustando nos dias frios. Mas, eu também a amava por ter um dia me feito
amar o céu e a chuva. Aquele friozinho e a leveza das gotas caindo traziam a
lembrança do calor de seus braços e a nostalgia de longos beijos ardentes
daqueles poucos que temos o prazer de ter na vida. Aquele leve orvalho a cair,
quase que num ritmo de uma dança ensaiada trazia a lembrança de beijos suaves na
chuva, com o mesmo gosto dos amantes que trocam cartas até finalmente estarem eternamente
unidos.
E na manha de chuva tinha
seus olhos mergulhados nos meus e tinha seu canto... Sua doce voz de menina e
seus planos bobos, seu jeito traquina de me fazer cócegas e suas tristes marcas
pelas minhas costas. Eu olhava no
espelho de agua que a chuva que trazia dias difíceis a minha janela me preparou
e eu via toda minha verdade. E ora eram gotas e ora eram lágrimas. E ambas se
misturavam e apenas sua temperatura as definia. Eu mentalmente as confundia com
um sentimento estranho de esperança, também quente, que nascia. E ao invés de
dor como antes, agora a chuva diante das minhas verdades, do meu sentir, levava
tudo que doía em mim como um milagroso remédio curando a ferida e sarando por
completo a cicatriz. A chuva trazia nesse instante uma profunda cura feliz.
E depois daqueles
instantes encarando a minha rival mortal que por ironia me salvava, eu entendi
que meu caminho é maior que essas pequenas perdas e que algo maior que tudo
existia e morava dentro de mim... E ai a chuva ficou sendo um marco de paz no
meu coração.
E hoje confesso que
conhecendo uma flor, coloquei sobre ela minha alma e me derramei por inteiro, e
fiquei tão feliz ao compartilhar nosso amor pela chuva. E nossos sonhos se
dividiram não para se perderem, como tantas vezes pensamos, mas para
completarem-se. E hoje, aqui fora está chovendo e no meu coração há uma chama
viva e acesa que eu nem vou chamar de amor, mas pela esperança que me traz, vou
chama-la vida... E vou vive-la devagarzinho... Como se lesse um poema!
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