A JANELA...
Semana
passada eu estava morto... E na minha mente apenas a ideia do que ainda viria.
Essa semana que vem será terrível... Isso era uma ideia insistente na minha
mente... Não pensar! Não pensar! Eu ficava tentando me fazer não pensar...
Aplico PNL, autossugestão, que droga! Nada parece funcionar. E me conformo de
saber que semana que vem será torta, incerta, incomoda, mas que logo vai passar
tudo e serei somente eu e você.
E eu e você
iremos a sorveteria, depois a praça, depois ao outro mundo que é somente nosso,
de ninguém mais. E a ideia de que possa dar errado me assombra, mas me acerca a
certeza que tudo sairá bem, em toda incerteza, logo essa certeza e não tem a
ver com você. E você ainda não ter chegado me espanta, você é sempre tão
pontual. Será que esqueceu? Não poderia esquecer nosso sorvete, e os sonhos e
toda vida juntos... Não, acho que não poderia esquecer. Em outros tempos até me
preocuparia com seu atraso, hoje não. Tem uma trave na mente, só penso na
semana que vem e na vida. Engraçado, em você não, mas penso muito na vida. Nos
erros, que não gostaria mesmo de cometer, nos que já cometi, nos que ainda
poderei cometer e tudo fica rodando, dando voltas loucas, atravessando
dimensões na minha cabeça.
Ouço uma
musica suave, acalma-me de um modo esquisito, como quando você sussurrava ‘eu
te amo’ no meu ouvido enquanto eu fingia que dormia... Nunca tinha falado,
talvez nunca tivesse mesmo tido a oportunidade de dizer isso a você, você
andava tão longe, tão perdida dentro de si mesma, que me esqueci de contar que
suas ‘gracinhas’ me acalmavam como a música acalma os bebes. Talvez eu nem
quisesse mesmo contar, gosto de me sentir misterioso, guardião de segredos. E
quando alguém me olha sabe que escondo algo e isso me agrada. Era como a minha
mania secreta de observar. Eu contava dentro de mim os casos e procurava
sentidos, razões e explicações, muitas vezes, como se competisse a um juiz
particular que mora em mim julgar tudo, salvar e condenar... Isso também estava
nos meus pensamentos agora, mas você não. E olhando distraído pela janela, na
catedral aquele enorme relógio marca 15h, está tarde e você não apareceu. Acho
agora que já não vem e não se importa... No intimo também sei que não me
importo porque minha mente está na semana que vem e não nessa, nada no agora me
interessa muito.
Ponho os
livros na mochila, olho de novo pela janela e lá está o sol caindo do céu como
numa partida de futebol que se finda e o meu tempo se esgota rapidamente... E
pondo a mochila nas costas, fecho à janela, as cortinas, pego as chaves e sigo
em direção à porta... Giro duas vezes a chave na fechadura, estupidamente penso
que deveria haver alguém pra se encaixar em mim... Desço as escadas passo a
passo como um condenado no corredor da morte, e ao sair o sol está bem diante
de mim se despedindo, tenho a impressão que ele sorri, mas não poderia afirmar
nada. Ponho as mãos no bolso e sigo rua abaixo. E semana que vem... Que venha,
não estou nem aí...
Comentários
Postar um comentário
Se você gostou do texto, comenta para eu saber :)