CASO WIFRELL: A MULHER QUE JÁ NÃO RESPONDIA
Quando
ele me disse para escolher o ‘que te faz sentir bem’, decerto não podia supor que
nada me faria ‘sentir bem’. Mas, então eu podia não existir e ai não sentiria
nada... Foi isso que pensei quando finalmente tomando coragem apertei o gatilho
do trinta e oito que empunhava nas mãos. Ia morrer e pronto! Mas, eu estava
errada... Eu não morri! Nem isso eu fiz direito! Fiquei em coma profundo por
meses... Hoje, tenho uma vida que foi apenas fruto de uma escolha... Eu queria
não existir quando decidi ‘me extinguir’ (acho ME MATAR muito forte), mas
acabei perdendo a vida e ficando condenada apenas a existir... Quando abri os
olhos, os médicos disseram:
“– Ela esta morta em vida... Sentimos muito,
mas não se pode fazer mais nada!”.
Deveria sentir um calafrio na espinha ao ouvir
isso, mas não senti nada. Iria vegetar apenas... A menos que alguém me
libertasse de sofrer... Mas, ninguém o fez! Passaram-se dias e fui para casa...
Meu quarto! Que saudade de suas cores vibrantes, minhas pelúcias, meus
livros... Tudo havia sumido. E já não reconhecia aquele lugar que dantes era
meu abrigo seguro... Algumas coisas ainda estavam lá, como às lembranças da
minha estupidez, que por vezes fazia apenas me torturar...
Quando
cheguei a casa ele veio me visitar muitas vezes, durante muito tempo, não sei
se foram dias, meses ou anos... Sei que um dia ele veio muito animado, brincou
com meus dedos nos dele, fez gracinha e depois, franzindo a testa ficou triste
de repente, beijou meus lábios docemente e depois beijou minha testa ternamente
(como um pai numa longa despedida), em seguida afastou-se vagarosamente como se
algo o arrastasse invisivelmente em direção à porta, ao ar puro, a vida! Ele
não disse adeus, nem tampouco precisava dizer... Nunca mais voltou... E essa
dor latejava nos primeiros tempos... Então, foi passando... Já não importava
mais... ‘ A saudade é o amor que fica’, um amigo me disse um dia a muitos anos.
Sempre que o recordava tinha um sorriso na alma e isso bastava para mim.
Algumas
outras coisas não estavam bem... Minha mãe vinha ver-me quase toda semana,
ficava horas olhando para mim em silencio – era uma dor secreta- perdia-se ao
longe seu olhar e eu imaginava que ela estava tentando alcançar o horizonte e
encontrar o meu pensamento... A dor dela era a minha dor. Quanto egoísmo! Se
pudesse imaginar que aquela escolha a faria perder-se assim... Nunca teria a
coragem de continuar...
Cometi
um erro fatal... Fiz uma escolha sem volta, sem pensar em nada além de minha
dor momentânea e estou agora condenada, e não somente eu, a viver assim...
Eternamente presa às consequências... Meu nome já não importa o que realmente
importa é que eu não queria ter feito isso!
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