- RÉVELLION
Eu tinha me
esquecido de sonhar... Tinha me esquecido de fazer planos que sei que nem vão
ser reais. E da sensação que sinto no estômago quando imagino que podem ser. E
me vem à mente você. Sua voz de trovão abalando minhas estruturas. Planejo
estar completamente só na sala, com aquele roupão nada sexy, deito descolada no
sofá. Um pote de sorvete no colo e a meia-luz começo a pensar na vida.
Realmente é um péssimo momento para pensar na vida, mas aquele silencio ali me
puxa e obriga ao pensamento, a sala inteira cheira a reflexão. Olho pela janela
e as luzes da rua estão apagadas, ‘bairro residencial, droga, todos dormem cedo’.
Sinto um pouco de raiva de estarem todos em suas camas a ressonar tranquilos e
eu ali com todos aqueles grilos. Ligo a TV pensando encontrar um refúgio,
músicas ruins me afrontam e me vencem fazendo-me desliga-la imediatamente.
Desejo no coração algo em secreto que apenas Deus pode saber. Não tem a ver com
você, nem com sua voz, nem com seu abraço quente... Nada disso... Ou quiça
tenha... Naquele escuro, abandono o sorvete e vou a janela conversar com a lua
que a está altura deve ser a única da cidade a estar desperta como eu. ‘Onde
estará?’... Que pensamento insistente. Passa pela minha mente os gêmeos, o
sorvete, o fondue, você cantando alguma coisa... Aquilo tudo que não vivemos,
mas que um dia sonhamos juntos deitados na sua cama grande e acolhidos um nos
braços do outro. Minha mão sob teu peito e a sua repousava suave sobre ela.
Entrelaçadas como as veias do coração, como as ramas de flores da alma. Chovia
lá fora quando planejávamos os gêmeos, tinha a sua pressa, minha indecisão, e
depois eu sorria abrindo mão de tudo, você havia ganhado outra vez. E eu era
sua para sempre!
Toca minha
campainha e distraída, sem imaginar quem estaria ali a me importunar em plena
virada do ano, quase a meia-noite, e atrapalhar minhas meditações, eu abro sem
cerimonia... Congelo segurando o trinco da porta como se seu gelo tivesse se
transportado para meu corpo. E fico muda ao ver seu sorriso, e notar seu cabelo
molhado de garoa, suas flores tão atraentes, mas não mais que seus olhos
quentes sobre mim. Estendo minha mão indicando para que entre e me pergunta se
senti saudades? Antes que possa responder, pensar ou trancar a porta, você larga
tudo e me beija como se fosse o único beijo de sua vida, a única mulher do
universo, o ultimo instante de sua respiração. Nesse momento não posso estar no
seu mundo... Sou o seu mundo! E a vida é engraçada, pois podia jurar que ia
passar essa noite completamente só, e apesar de não mais me apavorar com isso, você
veio. Apareceu com aquele vinho e com a garoa nos cabelos pretos... Com a voz
de trovão chama meu nome... E não estou mais só!
De repente
estou nos teus braços, com sua camisa de futebol americano e fazemos planos de
novo... Aí chega o ano novo... E tudo fica bem.
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