-MINTA PRA MIM!
João
Pessoa, 11 de Agosto de 2016
Olá
Princesa,
Como
estará você agora? Pergunto-me como eu
estou agora que finalmente curou a dor e já posso te escrever com a certeza
mórbida de que em mim não há mais mágoas a serem remoídas e que jamais lerá
isso. Como eu estou? Espero sua resposta e sua pergunta.
Escreva-me
e finja que se importa, finja que não pode viver sem mim, minta (como sempre
faz) que aquele era seu primo, que foi um beijo de amizade e que sou o único
que realmente você pode amar.
Minta
que estavam do lado da cidade que chovia e por isso estava com pouquíssima roupa,
que tem medo de resfriado, mas que pudor, que não queria ficar doente, que
precisa se cuidar para mim, que jamais trocaria o brilho vibrante do meu olhar
pela luz fosca dos dele. Minta!
Minta
que já não sabe sem mim o que é sorrir, e que respirar dói, tá difícil, sem
saber se vou te perdoar e voltar para o teu lado.
Minta
que seu céu já não é o mesmo, nunca esteve antes tão nublado, cinza, sem vida e
que viver para você sem mim não tem nenhuma graça.
Minta
que faltam sorrisos e você finge para não preocupar sua mãe.
Minta,
por favor, minta que ainda não me escreveu porque teve uma terrível crise de
tendinite, que imobilizou seu braço esquerdo, que ser canhota às vezes num tem
sentido.
Minta
pra mim, diga que sente saudade, que quer me vê, mas todas as linhas de transporte
de sua cidade estão em greve, que o metrô está em reforma, que o aeroporto está
interditado pela presença de baratas na cantina.
Minta
que sonha ouvir minha voz, mas os ladrões covardes levaram seu celular enquanto
você capturava Pokémon.
Minta,
minta quanto quiser, mas não fique assim em silêncio por tanto tempo...
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