-NOSSA MÚSICA
A música que tocava naquele
velho piano era uma poesia nascendo em mim e emocionada pela beleza e leveza do
deslizar dos seus dedos enrugados e frágeis pelas teclas cansadas, terminei nem
notando que despertava uma parte de mim que já acreditava não mais existir.
Mas, do nada vieram a minha mente lembranças bem antigas, daqueles outros anos
mais joviais e menos inundados desse marasmo que hoje me cerca.
Estava voando nos seus braços,
sob o céu azul de janeiro, o mundo era nosso. Naquele dia o sol havia sido o
mais brilhante, e as nuvens as mais belas formas já vistas, á noite a lua
exuberante concluía o espetáculo que havia sido viver aquele dia do seu lado.
Outros tempos, outras energias fluíam de mim como se a sua música me pudesse
fazer reviver, voltei aquele dia e me tornei eterna.
Quantos sonhos se perderam pelo
caminho? E quem hoje somos eu e você? Ambos fomos tudo um para o outro naquele
dia, e hoje parecíamos estranhos separados pela vida cotidiana, às vezes tão
sofrida, às vezes tão medíocre, outras tão felizes. Quanto de nós se perdeu pelas
esquinas viciadas da vida que escolhemos com tanta esperança compartilhar? E
quanto disso realmente foi necessário para sermos felizes, apesar dos pesares?
Talvez fosse o vento naquela
nossa mangueira que mais me lembrasse de você. Talvez o fato de ter ido tão
cedo nossa paixão fulminante, de não termos mais aquela imensa onda de fogo
invadindo nosso peito, talvez a dinâmica de criar filhos, netos, bisnetos,
tenha acabado fortalecendo outra coisa que trazíamos conosco e mesmo admitindo
que o amor não é o mesmo, fico feliz que tenha corrido água por este sentido do
rio.
Hoje, mais amigos que amantes,
vejo que o que realmente importa é estar aqui ouvindo você como nos velhos
tempos tocando essa música que sempre acaba me fazendo voar, como voei naquele
dia de outros tempos em que vivenciamos as noites mais estreladas de nossas
vidas.
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