-UM PRÍNCIPE

Ele me pediu para escrever uma historia da gente, mas que historia poderia ser se a gente nem era a gente? Então, recortei um pouco dos nossos encontros e impressões e costurei retalho por retalho uma colcha de emoções que saiu mais ou menos assim...

“Eu conheci um príncipe que ao invés de um cavalo branco tinha dois bulldogs, que ao invés de uma coroa tinha um topete, ele nem sequer tinha bom senso e era meio sem noção, mas ele tinha muita coragem, alguma ousadia necessária e um coração de menino, era um bobo sonhador que tocou meu coração inesperadamente. Ele conseguiu cometer todos os erros de um segundo encontro, felizmente fora compensado pela primeira impressão. Ele era um desses raros seres humanos que sabem pedir desculpas sem ficar tentando achar explicações bizarras para o erro, e ele me deixou ser eu mesma com ele, despi-me de qualquer armadura e me senti livre na sua companhia por um momento. Ele sorriu e ao ouvir sua risada, seu tom e sentir seus olhos sobre mim eu soube que ele estava se tornando uma presença definitiva, aquele estranho moleque crescido, intruso, invasor, estava inconscientemente tornando-se meu convidado, ganhando um lugar exclusivo e especial que agora, já hoje é somente dele. Chamei-o de chato, mas no meu coração estava encantada com tanta doçura. Fui fisgada pela melancolia e desejo absurdo de recomeçar... Hoje, mesmo hoje, sei que não é um tipo de paixão, começo a pensar que isso que agora mora em mim é algum tipo de amor. No momento a única certeza é que deve haver muito a falar sobre ele, mas eu ainda preciso descobrir.”

Hoje, exatamente nesse mês de novembro, nessa mesa cheia de polacos e amor, eu o vejo brincando com as crianças de longe e essa memória que me abraça. De repente lembro-me do primeiro encontro, da curiosidade, do medo e dor que tivemos que superar, de tudo que queríamos planejar juntos e do pavor de que não fosse possível. No entanto, mais forte que isso é aquela gargalhada espalhafatosa do seu péssimo stand-up que faz o Juliano rir feliz, também de todos seis filhos, o Ju é o mais novo e, portanto a nossa ‘raspinha de tacho’... Quando os outros cinco cresceram e seguiram seus caminhos o Ju quis ficar, disse que tinha que apoiar o pai e enquanto a gente pudesse estar com ele, ele estaria conosco... Lembro que nós dois choramos, coisa de velho mesmo né? Rsrs..

‘Um bom pai cria bons filhos’ penso comigo enquanto completo aquele abraço em família... Sinto a paz de termos alcançados tudo isso juntos me invadindo como a brisa que acaricia as folhas da nossa amada cerejeira nas tarde de primavera, afinal os príncipes também envelhecem e o amor é assim...

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