- Sebastian

 

Naquele sábado a verdade batia a minha porta, e o amor no meio saltitava... Ah! Há quanto tempo essa emoção de paixão não habitava em mim... Há quanto tempo não sentia esse alvoroço... A paixão é assim essa chama imperfeita, inesperada que chega do nada e se instala em nós como vontade... Depois insana brota como desejo, que cresce como necessidade... Que nos domina e nos faz perder os rumos... Planejamos coisa e sonhamos acordados, sentimos inquietações repetidas da ausência, do silencio... Quase nos leva a loucura essa tal de Srtª Paixão. Danado que a gente gosta dessa vontade de ficar louco... Foi assim naquele sábado que eu ousei amar você pela ultima vez na minha vida.

Sebastian, talvez pelos seus silêncios, talvez pela sua indiferença chamasse minha atenção curiosa desde a primeira vez que o vi. Mentiria se dissesse que lembro fielmente daquele dia, mentiria também se dissesse que não foi o fato dele não me enxergar que me encabulou e desquietou minha alma. Ele era alto, pele alva como um floco de neve no inverno, suas bochechas rosadas ficavam facilmente coradas e sua barba sempre bem feita o fazia parecer ainda mais jovem e ainda mais nerd. Quando eu o olhava eu via apenas uma provocação leve em seu olhar indiferente, apenas o sorriso compartilhado com outras enquanto eu passava silenciosa e parecia infinitamente invisível. Quando penso sobre isso, acho que sempre foi proposital, acho que você tentava esconder sua atração ali naquele silencio em que eu plenamente exposta me considerava ignorada. Podia me observar de longe com calma, conhecendo aquele gesto inquieto de morder o lábio, aquela mania louca de tirar a franja do olho, de arrumar o cabelo para esquerda como se estivesse me preparando a toda hora para melhor selfie da minha vida, aquele tom leve que eu usava para parecer meiga e inofensiva, meus melhores truques, minhas piores fraquezas, você estava somente observando tranquilamente... Aqueles meus segredos, todos você me roubava em olhares que eu nunca havia notado.

Naquele sábado você foi somente gentil e pela primeira vez em algumas semanas nosso primeiro contato real foi apenas suave... Apenas agradável e delicado... A sua voz ecoa na minha cabeça dizendo: ‘Se isso não te deixa confortável... ’, em seguida resolveu a situação sem que ao menos eu pudesse dar conta dela e do quanto ela me fazia sentir estranha. Acho que essa foi de fato à primeira vez que meu coração sorriu para você com afeto e não com orgulho besta que me forçava a desejar ser notada. Outra vez você cativou minha alma... Lembra-se daquele dia desesperador em que você acolheu minhas palavras rápidas, agoniadas e tristes e compartilhou minha dor inesperadamente me fazendo sentir calma? Senti-me abraçada pelo seu olhar carinhoso... Mesmo depois de passar por algo que me quebrou... Foi você que ousou tentar me consolar... Foi você que fez isso naquele momento em que eu jamais teria segurado aquelas lagrimas cheias que caíram inevitavelmente ao sair na rua... Você naquele dia despretensiosamente me fez mais forte! Naquele momento, mesmo desolada, meu coração sorria de novo, agora cativo, agora grato e um pouco feliz.

Naquele sábado em que eu me rendi tudo foi diferente por um momento... Acho que você sempre será inconsciente disso porque certas coisas são inconfessáveis, mas estando ali distraída e poder sentir sua aproximação, sua presença ao meu lado, uma proteção estranha, um sentimento de segurança que jamais havia experimentado, parecia que seus braços poderiam me curar de qualquer dor... Mas, apenas me espantei com esses pensamentos e me afastei meio envergonhada de ser tão desastrada, mesmo nos sentimentos eu teimava em me enrolar... Sua mão que segura a minha naturalmente e eu que sem reação só conseguia me deixar levar... Esta é a cena que tirou meu sono pela madrugada... E foi assim meio que do nada, somente por sua doçura e gentileza que me apaixonei loucamente por você.

Sei de tudo isso hoje porque sua presença tornou-se constante ao ponto de eu mesma não poder mais fingir que não sei o que acontece dentro do meu peito quando sua mão firme toca a minha de modo cortês. Você segue seu caminho voltando algumas vezes como visita e eu sigo o meu caminho tendo você num lugar especial e pacifico dentro de mim... Haverá algo a ser vivido? Pergunto-me se somos ainda realmente desconhecidos, se haveria outras saídas, ou eu, no mundo de sonhos que sempre vivi, também não estou sonhando ao escrever tudo isso sobre nós. Você ainda é um enigma que me instiga e me assusta a cada dia...


Comentários

  1. Gostei bastante!
    Conserve sempre sua escrita afiada e continue nos presenteando com seus belos textos. ✍️
    É imensamente gratificante lê-los.
    Obrigada! 🌷

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  2. Maravilha, Maria José, fico impressionado como você escreve o sentimento, o algo que ninguém vê, apenas os protagonistas percebem. Gostei e me coloquei na última frase! Abraços!!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Uma história adorável e delicada, onde se percebe todo o talento e sensibilidade da escritora. Um grande abraço!

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