Afinal, quem era você?

Cometi aquele erro bobo de novo... Apaixonei-me por um sorriso com covinhas! Foi um acaso que não planejei como é típico da paixão. Flechada por um cupido cego, ele pegou o alvo errado e me levou a uma “fake smile”, palavra que eu quero usar para definir alguém que finge ser dono do sorriso alheio.

Mas, aquele sorriso aberto, com dentes brancos e alinhado na boca, com lábios corados e covinhas profundas nas bochechas cheias, aquele sorriso poderia iluminar qualquer vida. Que homem miga! Isso foi o que falei no outro dia para minhas colegas sobre a impressão intensa de amar só um fantasma que lhe sorri indecifrável.

A paixão louca me convoca e vou cega de pressa por viver... Mas, ontem o céu da minha janela na foto enviada estava mais pesado que o habitual, o peso da brisa parecia insuportável, o vento parecia sentir dor no seu movimento e lembrei-me de alguém que sentia dor e mesmo assim movia-se maravilhosamente quando lhe convinha, mas ao mesmo tempo senti que tinha alguma coisa referente ao meu amado sorriso que estava no lugar errado... Aquela sensação de que o sofá não devia estar ali, ou a toalha, ou o par de sapatos, esse tipo de sentimento se misturava com meu sangue...

Uma inquietação se acomodou no meu peito e passou a fazer cocegas em meu cérebro me mandando tentar achar uma saída a esse desespero, uma resposta a uma pergunta nunca feita... Afinal, quem era você?

Acordei tão cedo que minha cabeça não processou, senti sua falta! Falta daquele sorriso embriagante, que me entorpecia e me fazia sentir cheia, transbordante, derramei algumas lágrimas ciente de minha fragilidade e depois busquei aquele único alento em meio à tempestade, aquele sorriso de companhia noturna, aquele sorriso despertado pelas minhas péssimas piadas sem graça, busquei isso sem esperança alguma... Senti saudade da madrugada em seu abraço apertado enquanto fazia carinho em minhas mãos, das nossas conversas longas e infindáveis...

E foi assim em meio a toda essa aflição existencial que na madrugada vazia houve aquele sorriso falso que não era nem meu, nem seu... E nem dele!

 

Imagem de Engin Akyurt por Pixabay


 

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