- O PÁSSARO
Meu coração já sabia desde há primeira hora que aquilo poderia me ferrar todinha. Sabia que sentimentos são como uma enchente se não são saudáveis, sabia que transbordar de modo repentino é preocupante, mas mesmo assim fui aquele encontro marcado e adiado, marcado e furado, marcado e realizado. Fui sem medo de ser surpreendida positiva ou negativamente, acreditava naquelas meias verdades e queria de coração que fossem somente a verdade e nada mais.
Um pássaro pousou num sábado na minha janela e me fisgou com seu olhar que parecia tão sincero, aquele pássaro ferido, sangrando, chutou a grade de nylon da minha janela e veio ao meu ouvido sussurrar perturbações que me deixaram esperançosa, maravilhada!
Era um pássaro que eu nunca havia visto antes e me encantou sua intensidade, sua entrega, seus diálogos bem elaborados, mas me assustou também tudo isso, pois vivo uma vida de cada dia e decepcionada pelos últimos acontecimentos já não tinha lá grandes expectativas com relação a nada, mas esperava a verdade do pássaro, somente isso... Sua verdade que dita de modo comum doeu em mim e me machucou, sua verdade que escondida no que ele mesmo nem sabe, fere ao próximo de modo desconcertante.
Aquele pássaro que outrora adentrou minha sala, meu quarto e deitou-se comigo algumas noites de verão, aquele pássaro cujos risos estavam por cada recanto do meu lar, aquele que vigiou meu sono e guardou minha alma desmontada enquanto no mundo dos sonhos pensara em renascer, aquele pássaro era uma ilusão terrível no final da estória. Era uma mentira criada, contada e repetida até que parecesse de verdade!
Aquele pássaro, eu com o coração sangrando, que ele não soube enxergar, eu o levei ao mar e o abandonei lá. Achei que entre os coqueiros da praia, entre as ondas do mar com sua brisa suave e acalentadora, achei que ali era seu lugar devido, e o abandonei lá sem olhar para trás, rezei em silencio para que pudesse ter a liberdade sonhada, para que pudesse ser feliz depois disso, para que não me odiasse por seu erro, para que pudesse recomeçar sendo honesto com ele mesmo... No mar onde tantos sonhos repousam sem realização, ali também estava deixando um dos meus para trás sem escolha.
Quando abri meu coração não havia nada além de uma verdade que era dura de ser ouvida às vezes, mas ele mentia a cada canto, cada assovio seu era um encanto falso... Uma mentira não pode ser dita sem consequências, aquele pássaro rebelde não entendia isso... Então o abandonei na praia e voltei para casa vazia uma vez mais nessa vida...
Parabéns pela reflexão! Continue fazendo o que você gosta que é escrever. Desvendendo os mistérios da vida com histórias que encanta cada ser.
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