A BRIGA (SUA DOR NOS MEUS BRAÇOS)
Um menino inconsequente, explosivo, feroz, curioso, sem limites morava no meu corpo hoje bem surrado pela existência. Esse menino não sabia perder, ganhar ou apostar alto. Tudo nele era em alto e bom som, tudo era gigante, ele era cheio de excessos, cheio de si, dono do mundo... E mal sabia que a força do seu punho poderia arruinar seu coração sensível, mal sabia ele que a sua pressa em retribuir a provocação o cegaria ao limite do viver alheio, mal sabia ele que aquele espirito protetor que foi despertado poderia ali mesmo ser uma maldição!
Naquele dia a muitos anos estava com uma moça que era minha namorada na época, tinha mais ou menos uns 21 anos e era alguém que hoje me assusta um pouco visitar. E na verdade, aquele dia mudou minha vida, aquele excesso me fez ver as coisas de modo diferente, aquele momento congelado em algum lugar no espaço tempo, aquele momento ele fez de mim uma parte do que sou agora! Então, estávamos juntos naquela praça fazendo o que os namorados fazem de melhor na flor da idade, aproveitando o sabor de estar apaixonada, a aura de paixão e beleza que sentimos quando do nada o cupido caolho nos flecha. Era isso que fazíamos naquela praça naquela noite de terça onde tudo poderia acontecer.
Aquele outro menino também tão inconsequente e irresponsável chegou com seus redemoinhos de fúria e me empurrou fortemente contra a minha garota que instantaneamente caiu e batendo com a cabeça a quina do banco desmaiou de pronto. Surtei como diriam hoje. Olhei aquela mulher que amava sem cor, sem vida caída diante de mim e olhei o causador de sua dor e entre eles escolhi o meu desejo cego de proteção, parti para cima daquele cara e esmurrei-o, fui esmurrado também, pois fazia parte numa briga né? Mas, então vendo que houve uma vantagem eu segui agredindo-o intensamente até o meu braço doer, ou mesmo alguém vir ao nosso socorro e tirar-me de cima dele, também quase desfalecido... E foi isso que fiz naquela terça há anos atrás, eu mandei aquele menino tão tolo quando eu para o hospital gravemente ferido...
Disse isso com voz embargada, via-se de longe um arrependimento em seus olhos de algo que já não poderia ser mudado... A partir daquele dia, disse sucinto, nunca mais, eu jurei, eu nunca mais ia infringir uma regra na minha vida, mesmo a menor delas, eu não o fiz durante esses anos que se passaram...Perguntou com certo pesar ao beijar-me a testa carinhosamente...Você me acha um monstro?
Quando me contou aquela historia achou que iria chorar ao ouvir... Quando ouvi sua historia achei que precisava ouvir de novo... Tinha coisas ali que se perderam num instante de suspiro, talvez no esforço em imaginar, talvez de distração mesmo em querer te olhar enquanto te ouvia meio sem poder. Senti-me decepcionada, ali mesmo eu só queria te abraçar, dizer que aquilo foi um erro e todos erram... Estava decepcionada de estar longe dos meus braços também naquele dia, de ter passado tanto tempo com essa dor sozinho... Estava decepcionada por tê-lo deixado sozinho tanto tempo... E essa era minha verdade naquele dia olhando suas covinhas e imaginando a gente rindo de coisas engraçadas ao anoitecer... Imaginando com você um futuro enfim feliz!
uma ótima narrativa, agradável e que nos leva a refletir a respeito do que somos e do que podemos nos tornar.....[...]
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