-UM JANEIRO QUALQUER

Estou sufocando... A poeira grossa dentro dos meus pulmões me impede de respirar, o ar quente fora do meu corpo me arrasta fortemente ao abismo. Quero gritar, desejo isso com avidez e pânico, quero me entregar ao mar infinito para que me carregue suavemente em suas ondas descompromissadas, quero ser leve e poder respirar. Quero gritar, sei que tem um grito louco preso na garganta e não sai, não consigo, sinto aquelas mãos grossas e enluvadas a sufocar-me.

Desabafo e desabo em lagrimas quentes uma vez após outra, esperando sempre por alguma saída milagrosa, mas não vem. Aquela esperada salvação tem tardado demais para mim, ao meu socorro nada acontece, apenas um dia fingindo correr, mas indo lentamente após o outro e um janeiro com 300 outros dias, o maior mês de uma vida inteira.

Quero alcançar um despertar sem angustias, a alegria de um sorriso livre, desejo ardentemente como um fogo em brasa plena, um abrigo onde pousar. Tenho urgência de dias melhores, tenho uma esperança que como a luz do poste na esquina de casa, quase acende, quase apaga...

Tenho as palavras como casa e aqui estou mãe lar, abre essa sua porta de afeto e me acolhe de novo... Abraça esse resto de ser humano e me consola... Porque estou  retornando ansiosa, cansada e ferida outra vez...

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