- A VIAGEM

 

Naquele dia o sol saiu de detrás das nuvens com um proposito novo naquela cidade quente, e com carisma e certa poesia presenteou-me com a melhor história de amor que já ouvi. Eu estava sentada no aeroporto lendo meu livro de todas as manhãs com aquela expressão serena e divertida quando ele finalmente desembarcou. O vi de longe pela vidraça. Pela descrição, alto, claro, sempre de óculos escuros, era ele mesmo, não podia ser engano. Ouvi dali, mas bem baixinho um desejo do seu coração ‘surpreenda-me’. Eu sorri por saber que ele teria uma das mais intensas emoções de sua vida, mas ele apenas agarrou sua bagagem indiferente a minha presença e seguiu seu caminho. Eu o acompanhei de longe durante toda sua aventura, chegou ao hotel, seguiu para coordenar sua obra, soube seu nome em minha pesquisa, gosto de detalhes e o nome para mim era importante demais para não existir, de longe onde me vigiam não se permite saber os nomes dos casos a serem acompanhados por uma obvia razão, sendo todos nós humanos demais podemos desenvolver afeto pelo nosso alvo e dai interferir em sua história o que não é definitivamente desejável. Mas, eu sou mesmo meio rebelde, confesso ter experimentado as melhores histórias por minha ousadia, mas também já dei escorregões terríveis. Bom, o importante é que ele pensava mesmo alheio a minha presença que caminhava sozinho enquanto seus olhos exploravam toda região. Eram olhos curiosos, mas sua face parecia indiferente... Senti por um instante medo de seguir em frente e não haver nada no peito como não conseguia ver de imediato nos olhos... Felizmente tudo correra melhor do que supus e lá estávamos nós em pleno aconchego quando o amor veio-lhe dar o ar da graça. Não havia dúvida que no seu peito existisse vibrante um coração quente!

Diogo veio fazer sua parte para o progresso da humanidade... Brincadeira, ele veio somente cumprir uma de suas obrigações no nosso amado nordeste quando pensando jogar o jogo da sedução foi fisgado pelo imprevisto. Eu costumo pensar no amor, paixão imediata, ou seja, lá como chamam, de um modo bem peculiar... Ele é pra mim aquele guri travesso sempre nos espreitando para nos preparar uma armadilha fatídica. Foi assim... Ele espreitou o Diogo e o prendeu numa trama digna de folhetim de TV. Ele não estava preparado para o cupido flecha-lo nem imaginou que seria na pessoa errada que ele atiraria sem piedade, talvez por certa maldade para causar-lhe aquele apertinho incomodo no peito, talvez por pura cegueira, pois na minha humilde concepção o cupido é muito cego... Bom, o fato é que me mantive atenta para vê-lo viver sua história cujo principio, meio e fim foram permeados de uma bravura indefinível. Nosso herói lutou com desejo pelo seu premio, um coração de morena flor, cheia de encanto e certa doçura. Por que ele apaixonou-se? Perguntava-se sem saída. Por que havia encontrado aquela mulher fantástica num pico hormonal ou por que seu sorriso o deixava sem jeito de tão especial? Por que seu cérebro queria uma solução ou por que seu coração queria um problema? Afinal, não havia nenhum por que. Simplesmente Kristy era aquela que ele poderia amar, queria poder tentar, queria mesmo acreditar que existe algo na gente que nos motiva a escolher alguém e querer está por perto desse serzinho pelo maior tempo possível, mesmo, como no caso dele, sabendo que duraria pouco, seria difícil, e tinha prazo de validade estabelecido.

Saindo com seu comparsa de farra, conheceu uma loira que lhe chamou atenção pela face. Eu o observava em silencio sabendo dentro de mim que fizera uma escolha precipitada e da qual possivelmente em algum momento se arrependeria. Estiveram juntos porque ele achou que era bonita, e pronto foi assim... Tão fútil que nosso herói mereceu uma flechada errada... Na verdade, saindo ele com ela findou por descobrir um tesouro escondido, do seu lado a morena mais incrível de sua vida lhe sorria cumplice e docemente e ele perdeu-se. Se perguntarmos agora quando ele se apaixonou, não vai saber... A gente nunca sabe a causa, só conhece o efeito da paixão. A dele foi imediata. Avistou-a e sentiu seu corpo vibrar, tudo nele estava completamente vivo, seu coração pulsava dentro do corpo como se a qualquer descuido pudesse livremente sair dele e caminhar sozinho até ela para no seu ouvido confessar seu delírio. Suas mãos suavam avexadas de tocar sua face bronzeada e tê-la finalmente em seus braços. Pareceu o momento em que os fogos de ano novo são finalmente acesos e todo sentem certa esperança... Era esperança que brotava nos seus olhos naquele instante. Depois disso já não podia olhar a outra com mais nada de desejo. Só poderia desejar aquela para quem seu coração se doou ali involuntária e loucamente... Seus dias sem ela foram uma tortura, todos os contatos foram frágeis, instáveis e ela tornara-se para ele como aquela fina areia da praia onde pisava nesse instante, sentia-a escorrer entre suas mãos e perder-se e isso o asfixiava, pisava a areia como que fazendo pequenas promessas ao mar tão enorme, confessando a lua que poderia amá-la se houvesse algum tempo para lutar. Lamentando-se de ter sido ludibriado pelo alvoroço e beijado a boca errada.

Durante seus dias eu o via dormir e acordar com um pensamento fixo nos olhos de Kristy. Percebera-se apaixonado e envolvido quando já lhe faltava o apetite diante de sua farta mesa, quando já não fazia sentido olhar o sol lá fora sem o reflexo de seus raios através dos olhos dela. Sentia-se ansioso, um alvoroço doido o corroía, queria a todo instante ouvir sua voz, sentir no ar seu cheiro de primavera, ele queria estar com ela de um modo como há muito pensara não desejar mais estar com ninguém. E além de toda sua angustia por uma distancia estranha que pousou entre eles, havia também o tempo que conspirava contra qualquer plano, qualquer promessa. Resolvera ao acordar naquela manhã que iria atrás dela, jogaria o perigoso jogo que a vida lhe submetera e perdendo ou ganhando estaria feliz se ela estivesse feliz. Tentou de tudo para lhe chamar atenção e ganhar dela ao menos uma chance de encaixar-se em sua rotina e roubar-lhe um minuto da vida para contemplar seu sorriso. Todo esforço em vão, mas algo mais aterrorizante o atormentava... Era a certeza de que não podia desistir, havia algo nos olhos, no modo com que soava sua voz, na ternura secreta dos silêncios que o fazia ter uma convicção que não podia desistir jamais. Como ultimo golpe de sorte, aquela jogada fatal que pode salvar ou condenar pra sempre ele arriscou mandar-lhe rosas e chocolates. Não havia mesmo mais nada a perder, já tinha, por varias vezes seu não imperioso, agora um a mais não teria muita importância e se houvesse um sim ele assoviaria distraído de alegria por ai, sem nenhuma cerimonia, uma canção de amor.

Segui-o até onde resolveu comprar as flores, pediu rosas, depois mais risonho e esperançoso especificou que queria rosas colombianas, essas rosas eram umas três vezes maiores que as rosas normais, intensamente vermelhas como a paixão no seu peito, como a cor dos seus lábios, com uma textura de veludo que a ele era uma analogia perfeita a maciez de sua pele... Ao menos deveria ser, imaginou ele com um riso intimo, mas sem maldade alguma. Recomendou que fossem entregues em mãos e planejou aparecer no final do expediente para tomar nota do resultado de sua pequena ‘loucura de amor’. Ficou de dá dó o nosso herói com cara de perdido quando disseram que ela já havia ido embora, mas animou-se de saber que lhe arrancara um sorriso de surpresa e que seus olhos brilharam por seu mérito mesmo que somente por alguns instantes. Pareceu sentir que agora seria diferente... E não estava de todo errado... Nessa noite recebeu uma mensagem dela marcando um encontro, uma conversa apenas, mas encheu-o de esperança, digo isso porque notei com que sorriso bobo ele adormeceu como se dormisse no colo de um anjo... Um anjo moreno de nome Kristy.

Encontraram-se e peculiarmente aos nossos dias tiveram um jantar a dois com uma boa conversa sobre planos, futuro, sonhos... E sem aquele tão esperado beijo que sela o amor. E atento a este fato porque dai sinto certa esperança de que eles um dia fiquem juntos, mesmo sem darem-se conta disso priorizaram conhecer a alma um do outro ao invés de suas curvas, entrelaçaram os sonhos ao invés dos corpos... E isso me traz esperança genuína! Repetiu-se a dose no pouco tempo que tinha e já como uma ampulheta seu tempo esgotava-se. Eu estava ali sempre para lembrar-lhes da urgência do hoje, da incerteza do amanhã... O fato é que estavam tão absorvidos um no outro que pouco se importaram com minha presença. E no dia de partir eu vi nosso coração valente quebrantado pelo vazio de um abraço que não aconteceu.

Chegou sua hora de seguir, e seguiu... Gostaria de dizer que ela veio ao seu encontro e no ultimo instante houve alguma despedida, mas não seria verdade. Ele, eu posso afirmar, esperou algo assim em silencio até o ultimo segundo, quando finalmente entrou no avião e enfim esgotaram-se suas expectativas. Era a primeira vez que ele sentia que tinha chegado completo a um lugar e voltava sem um pedaço... Algo dele ficou ali escondido entre as nove rosas colombianas e a caixinha de chocolate...

Desembarcou sereno, mas incompleto. Quando vibrou seu celular e ele viu sua mensagem seu semblante se iluminou... Sua história feliz havia recomeçado...

Mas, como seria dali em diante? E o beijo que não compartilharam? E a distancia que os separava? Por sua expressão nada disso iria ser uma muralha entre eles, mas também não sei bem se dessa vez li certo aquele olhar perdido... Era de saudade, eu acho!

Pensava comigo como seria tão bom se fosse diferente, se ela o correspondesse esta seria uma dessas histórias que foram feitas para não dá em nada e acabam dando em alguma coisa surpreendentemente mágica. Ao final de tudo que eu vi concluí que ainda não acabou... Meu palpite é que um dia ele volta para buscar seu pedaço que deixou por aqui... Mas, sinceramente eu não sei... Deixei-o lendo a mensagem que o trouxe instantaneamente de volta a vida... E segui sorrindo a imaginar quais serão as cenas dos próximos capítulos...

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