-CAOS
Sentada ali naquela
sala meio sufocante, eu via um outro mundo a minha frente. A parede com vestígios
de mofo, mas muito sutilmente pintada servia como um projetor de minha alma.
Podia ver o caos em mim ao longe e à medida que o homem que vestia azul escuríssimo,
cuja barba era bem alinhada e o seu semblante era de uma suavidade que ao primeiro
contato inspirava certa confiança me questionava sobre o que gosto, de que tipo
de pessoas gosto, eu ia me aproximando vagarosamente daquele caos. As mãos
estavam suando frio e os dedos não paravam de se entrelaçar como numa dança
louca. Cada passo em direção a escuridão em mim era difícil, tremulo e ansioso.
Fiquei ali por
minutos que voaram, preocupada de saber até onde aquela experiência a qual
relutei por anos ter iria me levar. Olhava o seu aparelho celular com mais frequência
do que eu poderia ignorar. Pensava comigo se eu era algum espécime de mostro horrível
que além de apavorar a mim, assustava também aquele homem. O ritmo compassado
que usava, o silencio entre uma palavra e outra dele era preenchida na minha
cabeça por outros sons. Então ao ouvi-lo eu sentia certa paz. Não tinha em mim
aquela tranquilidade do falar, sou uma metralhadora em guerra quando abro a
boca. Como se tudo precisasse ser dito e o mais rápido possível no tom mais alto
que possa alcançar. Em desespero as palavras jorram solitárias, sem abrigo.
Olhava perdida nas
minhas definições de mundo para aquela poltrona vermelha que parecia confortável
e me perguntava por que escolhi a cadeira que era cinza e apática como eu me considerava
naquela tarde antes de olhar o caos em mim e me apaixonar por ele. O tempo acabou,
assinei um contrato sem ler, dei um consentimento nem sei para quê e segui pelas
escadas daquele labirinto meio abismada com uma nuance tímida de beleza que
enxerguei no meu caos. Tinha uma força de atração que me seguia quando saí na
chuva naquele dia sem medos (tenho pavor de andar na rua sozinha), mas agora,
ali, era diferente, foi natural e não senti medo. Um pedaço do meu caos me
fazia sentir menos sozinha agora, era uma companhia que me deixava segura,
protegida e até ousaria arriscar que ali eu fui feliz enquanto sentia as
gotinhas da chuva na minha pele morena.
Voltei com uma luz visível
aos olhos alheios, algo em mim havia brotado e era perceptível. Talvez fosse a esperança,
era bom finalmente poder senti-la. Mas, é claro também que nada pode ser tão
duradouro que se torne enfadonho... Dormi e tive um sonho longo, que um anjo livre,
bonito e atrevido mudava de rota e me desviava do meu caminho, sentia medo e me
sentia feia e assustada de novo... O caos em mim cuja simpatia acreditava ter
tido... sumiu de repente e novamente me senti sozinha e perdida na noite mais
escura de maio.
Belíssima expressão de sentimentos da vida contemporânea.
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