-SILÊNCIOS

Sentia uma revolta dentro dela queimando como aquela azia de pão com mortadela. Azedava seu dia o ver fingindo que perdeu a memória. Rogou-lhe até uma praguinha minúscula para que perdesse mesmo. De preferência que ela também o pudesse fazer.

Que ficasse claro que ele começou a palhaçada de paixão, ela jamais mencionara alguma coisa assim, falou apenas que ele era uma brisa suave que trazia paz, ele que em sua ansiosidade pecaminosa transformou isso em estar apaixonados. E adicionou o fogo carnal dele a estória.

Abominava inclusive seu anti-cuidado. Seu egoísmo tremendo de não enxergar ela como alguém que poderia ser primeiramente ajudada e depois... bem, depois a gente via. Sua vontade era grande, queria tocar-lhe timidamente e depois abandoná-lo como parecia ser-lhe um hábito fazer. Até mesmo a indiferença tem limites né, bonito? Pensava ela em pavorosa.

Como ele pôde ir tão longe, com tanta ousadia e depois ser tão frio quando um iceberg na Antártida? Pior que isso, aquele bloco de gelo sem expressão e com frase pronta de “prometo”, era de mau gosto total a sua alma. Odiava ele naquele fim de tarde! Odiava ele para o sempre que pudesse durar aquele vazio que ele implantou em sua alma. Odiava ele do tamanho da ansiedade de receber sua mensagem, de ver ele sentindo sua falta. Odiava a hipocrisia mundana que ele pregava como virtude. Desconstruído? KKK, poderia rir daquilo o dia todo! Descontruído estava seu mundo, seus sentimentos, seu sono... o que ele saberia sobre amor para mencionar “amor” como se fosse um aí ou alguma coisa banal de existir? Faria uma pergunta se pudesse. Diria aos berros da alma: O que você entende sobre construção, Sr. Desconstruído? Diria isso e morreria em seguida porque não suportaria o silencio ensurdecedor que sucederia o questionamento, sabe disso, pois dele só vem silêncios em bandos como corvos agourentos!

 

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