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-NO FIM DA ESTAÇÃO

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  Hoje, já no fim do inverno, sai à varanda e vi a cidade lá fora e pareceu tão aconchegante. E fiquei triste por me entender como uma prisioneira num jaula de cristal na selva de pedra. E desejei voar pela varanda e ser ‘menino pássaro’ quando como era pequena e éramos pássaros que voavam sentados na galha mais frondosa da oliveira sempre-verde no meu quintal. Sentia de repente um ar que invadia os meus pulmões me encher de novo de uma vida de antes que eu amava e não sabia. A liberdade de ir para o desconhecido junto com a certeza de habitar junto do útero materno. Indo para casa, sinto-me ansiosa e meio perdida. Há tantos caminhos percorridos nesse meio tempo que a infância e outra época boa da minha vida ficam sussurrando ao meu pé de ouvido para voltar e fixar morada naquele pequeno paraíso que fora nosso mundo. Uma minuciosa e confusa analise me leva a cozinha com passos pausados e lentos como ensaiando uma dança libertadora. Mecânica e suavemente me desloco entre o

-OS IPÊS ESTÃO FLORESCENDO...

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          Os ipês estão florescendo e é inevitável diante de sua indiscutível exuberância não notar a névoa densa de saudade que pousa suave sobre suas flores divinas. É um apelo por teus olhos sob elas, um desejo de tua contemplação, um suspiro ansioso de tua presença. E minha alma tem constantemente acordado como os ipês, apenas desejando você a cada instante. Ou talvez eu tenha inventado as flores só para prender teu olhar em mim... Hoje, sabendo que você foi embora sem adeus eu me comovo com sua falta, mas admiro sua coragem. Só alguém que se importa escolhe partir seu coração ao invés do coração do ser amado. Tenho me perguntado em minhas noites de insônia como você tem conseguido viver com os caquinhos que devem ter sobrado de você, depois que decidiu dar as costas a seu amor somente para vê-la feliz em outros braços. Ela jamais acho eu, foi sequer merecedora do teu sentimento, eu em silencio amei você na sua dor, na sua alegria, na sua conquista e perda. Amei em sile

- FOI ASSIM QUE COMEÇOU...

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  Sua camisa impecável era em muito um par ideal para a calça preta que trajava. Ambos sequer seriam notados, pois o brilho vivo nos teus olhos era a  real mágica que te vestia. Deslumbrada apenas sorria quando teu olhar de boas vindas cruzava com o meu pelos corredores da loja, da rua, da vida. E quando ouvi o som de tuas palavras percorrem toda aquela sala e virem pousar sobre meus ouvidos atentos, e quando dei-me conta de sua gargalhada cheia de uma alegria infantil e sincera, e do tom peculiar em que mencionava a existência eu soube que era pra ser exatamente assim... Há os descrentes que dirão que tudo isso é balela, mas meus olhos pousando sobre teu sorriso abrasador não era uma piada de boteco, era uma dessas vielas do acaso. Caminhavas distraído e de longe eu te fitava, era de inicio um estranho simpático no meu viver, mais um rosto para lembrar nos sonhos, ou apenas alguém mais para dar bom dia em dias que desejasse verdadeiramente fazer isso... Que engano bobo os d

-DESPEDIDA

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 É estranho ter que se despedir de alguém que foi sempre um vulto nos meus sonhos, um alguém que eu não pude ver sorrindo, nem tampouco me viu sorrir... Mas, estranho é sentir essa dor, agonia e ao mesmo tempo um certo alivio por saber que seria egoísmo continuar a aprisiona-lo numa vida tão calamitosa. Seu Joaquim, aquele com quem planejei partilhar grandes coisas, talvez um café quente, ele com cara de poucos amigos, mas sempre comigo era diferente; compartilhar os segredos do quarto de dona Terezinha, e feliz sorrir quando ele soubesse que o filho ia ter um herdeiro.  Uma bênção que não veio, ele segurando o braço do filho e confiante me entregando ele ao altar, aqueles olhinhos fortes e curiosos, de um grande guerreiro me dizendo que sou a pessoa certa. 'Juízo hein' ele ia dizer te olhando Amor! Depois disfarçaria uma lágrima e seria um dos dias mais felizes de sua vida... Seria! Ele não pode esperar por mim, teve pressa de liberdade, de paz... E se foi...   Como seria

- RÉVELLION

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Eu tinha me esquecido de sonhar... Tinha me esquecido de fazer planos que sei que nem vão ser reais. E da sensação que sinto no estômago quando imagino que podem ser. E me vem à mente você. Sua voz de trovão abalando minhas estruturas. Planejo estar completamente só na sala, com aquele roupão nada sexy, deito descolada no sofá. Um pote de sorvete no colo e a meia-luz começo a pensar na vida. Realmente é um péssimo momento para pensar na vida, mas aquele silencio ali me puxa e obriga ao pensamento, a sala inteira cheira a reflexão. Olho pela janela e as luzes da rua estão apagadas, ‘bairro residencial, droga, todos dormem cedo’. Sinto um pouco de raiva de estarem todos em suas camas a ressonar tranquilos e eu ali com todos aqueles grilos. Ligo a TV pensando encontrar um refúgio, músicas ruins me afrontam e me vencem fazendo-me desliga-la imediatamente. Desejo no coração algo em secreto que apenas Deus pode saber. Não tem a ver com você, nem com sua voz, nem com seu abraço quente