O PALHAÇO

                
       Acho que esse é o texto mais especial que eu poderia escrever. Falar de palhaços e especialmente prazeroso para mim. Não sei bem de onde veio essa minha obsessão pela imagem, exageradamente pintada, do palhaço! Aliás, eu tenho uma desconfiança. Acho mesmo que a culpa é de um poeta local, Dinamérico Soares, que em um poema chamado “Palhaço” descreve magicamente o intimo do palhaço e seus sentimentos de um modo indescritivelmente belo. Teria que vê-lo aqui para poderem entender do que falo.
       Fico paralisada, muda e estática diante das palavras que ele usou, elas são fortes e belas. Ao mesmo tempo em que torna o palhaço totalmente humano, o torna também herói.
       Desde que vi este poema, algo dentro de mim com relação aos palhaços mudou. Não rio de suas piadas sem graça e até lamento o nível do que se chama de ‘humor’ hoje em dia, mas eu os respeito como seres vivos. Admiro- os por sua nobre missão de fazer seu melhor para fazer outros rirem, mesmo quando eles mesmos não o poderiam  fazer; mesmo estando partidos por dentro, eles emendam os outros corações com sorrisos. São mágicos e irreais!
       O que são os palhaços? Homens novos e velhos, pais de família com ‘bocas’ para alimentar, trabalhadores autônomos e gente. Eis o que são os palhaços! Gente como a gente, que sentem e choram; que dizem palavras chulas quando estão chateados; que namoram; que dizem adeus a cada cidade; que sonham e deixam de sonhar um sonho para começar outro a cada novo porto. São homens, mulheres, crianças e adolescentes que nunca desistiram de viver, que escolheram viver de um jeitinho meio incomum, sem porto, sem destino, sem grades, sem regras. Os palhaços são seres livres!
      ‘Quando o circo pega fogo sua alma empalhada quer correr, não tem para onde... ’
      Para onde vai o palhaço? Aonde ele pode estar além de entre as deslumbrantes lonas de um circo, fazendo graça? Não há um mundo só para eles, o mundo todo os pertence. Eles são os seres que mesmo não tendo nada, tem tudo! São especiais e fascinantes os palhaços!
        Lembro agora de uma postagem que pus no meu blog, quem é o palhaço triste? No final, depois de uma porção de imagens de palhaços fazendo algo que não lhes é habitual, ao menos enquanto está no personagem, chorar. Isso mesmo meus palhaços choram! Então eu concluo, Sou EU, Eu é que sou o palhaço triste...
      Às vezes, é exatamente assim que me sinto. Palhaça na vida! Palhaça somente é o que sou! Então eu fico tentando ler o olhar triste dos palhaços e não consigo! Concluí que não o posso fazer porque apesar do desejo estranho de ser palhaço, talvez pela ideia de liberdade que eles me transmitem, eu não posso sê-lo porque não tenho alma de palhaço, apenas um desejo intenso de compreender aquele olhar triste e ajudá-lo a ser, ao menos, mais um pouquinho feliz!

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