CONFIDÊNCIAS DE UM SILÊNCIO



Sabe que fico surpresa. Como pode você que jamais me viu pessoalmente, olhou nos meus olhos ou sentiu minhas mãos saber tanto de mim e conseguir ler-me em silencio? Quando ouvi sua voz límpida ao telefone já podia sentir que era hora de virar a página e me reconstruir com o que tenho de mais verdadeiro e meu, que sou eu mesma e tudo de mais que bom que existe em mim.
Ando lutando contra meus monstros interiores, mas isso nunca precisei te contar. Você sempre sabe quando estou conseguindo lidar comigo e quando apenas suporto e finjo sorrir. Diante das minhas verdades fico prostrada, simplesmente sem entender como todos aqueles que convivem comigo todo dia não sabem e você que jamais me viu pode saber. Ai eu descubro que sempre que falo você se cala e em silencio me escuta. Que você guarda as boas conversas arquivadas em algum lugar do seu cérebro fenomenal e sempre que precisa consulta-las, lá estão às verdades explicitas e as implícitas.
No dia que disse que eu devia repensar minha maneira orgulhosa de ser, você me deixou irritada, e isso depois de meditar me fez ver que você tem razão. O orgulho que tenho é um mal maior do que qualquer tristeza real ou imaginaria que me ocorra. E ontem quando disse que diferente de mim você tinha ‘fé nas pessoas’ eu achei ridículo. Como assim? Tenho fé, obviamente que tenho.
Não tenho. Você tem razão de novo. Foram tantas decepções por acreditar que simplesmente não tenho fé alguma em ninguém. Não acredito em nenhuma bondade e ainda creio na teoria da conspiração contra mim. De todos os cometas que vieram, de certo, nem todos foram ameaças terríveis, nem causaram danos irreparáveis. Mas, é o que fica. E por alguma razão no meu caso ficaram as cicatrizes e feridas e não o bom que outros trouxeram.  E depois de confidenciar isso, como imagina que seja minha cabeça? Uma horrenda melodia? É bem por ai mesmo! E só você sabe... Somente você é que sabe.

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