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-SILÊNCIOS

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Sentia uma revolta dentro dela queimando como aquela azia de pão com mortadela. Azedava seu dia o ver fingindo que perdeu a memória. Rogou-lhe até uma praguinha minúscula para que perdesse mesmo. De preferência que ela também o pudesse fazer. Que ficasse claro que ele começou a palhaçada de paixão, ela jamais mencionara alguma coisa assim, falou apenas que ele era uma brisa suave que trazia paz, ele que em sua ansiosidade pecaminosa transformou isso em estar apaixonados. E adicionou o fogo carnal dele a estória. Abominava inclusive seu anti-cuidado. Seu egoísmo tremendo de não enxergar ela como alguém que poderia ser primeiramente ajudada e depois... bem, depois a gente via. Sua vontade era grande, queria tocar-lhe timidamente e depois abandoná-lo como parecia ser-lhe um hábito fazer. Até mesmo a indiferença tem limites né, bonito? Pensava ela em pavorosa. Como ele pôde ir tão longe, com tanta ousadia e depois ser tão frio quando um iceberg na Antártida? Pior que isso, aquele blo

-CAOS

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Sentada ali naquela sala meio sufocante, eu via um outro mundo a minha frente. A parede com vestígios de mofo, mas muito sutilmente pintada servia como um projetor de minha alma. Podia ver o caos em mim ao longe e à medida que o homem que vestia azul escuríssimo, cuja barba era bem alinhada e o seu semblante era de uma suavidade que ao primeiro contato inspirava certa confiança me questionava sobre o que gosto, de que tipo de pessoas gosto, eu ia me aproximando vagarosamente daquele caos. As mãos estavam suando frio e os dedos não paravam de se entrelaçar como numa dança louca. Cada passo em direção a escuridão em mim era difícil, tremulo e ansioso. Fiquei ali por minutos que voaram, preocupada de saber até onde aquela experiência a qual relutei por anos ter iria me levar. Olhava o seu aparelho celular com mais frequência do que eu poderia ignorar. Pensava comigo se eu era algum espécime de mostro horrível que além de apavorar a mim, assustava também aquele homem. O ritmo compassado

- A VIAGEM

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  Naquele dia o sol saiu de detrás das nuvens com um proposito novo naquela cidade quente, e com carisma e certa poesia presenteou-me com a melhor história de amor que já ouvi. Eu estava sentada no aeroporto lendo meu livro de todas as manhãs com aquela expressão serena e divertida quando ele finalmente desembarcou. O vi de longe pela vidraça. Pela descrição, alto, claro, sempre de óculos escuros, era ele mesmo, não podia ser engano. Ouvi dali, mas bem baixinho um desejo do seu coração ‘surpreenda-me’. Eu sorri por saber que ele teria uma das mais intensas emoções de sua vida, mas ele apenas agarrou sua bagagem indiferente a minha presença e seguiu seu caminho. Eu o acompanhei de longe durante toda sua aventura, chegou ao hotel, seguiu para coordenar sua obra, soube seu nome em minha pesquisa, gosto de detalhes e o nome para mim era importante demais para não existir, de longe onde me vigiam não se permite saber os nomes dos casos a serem acompanhados por uma obvia razão, sendo todos n

-O EXPERIMENTO

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Um dia desses me perguntei meio que do nada, afinal, como nasceu à solid ã o? E descobri curiosamente que é uma historia bem antiga e, claro, n ã o vou contar com detalhes porque o objetivo era só saber mesmo. Totalmente inesperada eu diria. Dizia o estudo cientifico publicado em uma revista renomada da área das ciências psicológicas que a solid ã o era advinda de um experimento realizado por cientistas franceses logo que a humanidade surgiu. E esse estudo era para saber se o ser humano poderia existir sem esperança e como efeito colateral eles deram a luz, ou melhor, um nome eu acho mais pertinente, deram ent ã o um nome aquele sentimento de angústia e vazio universal que deixa o peito sufocado, chamaram de solidão. Assim foi que nasceu... Quanto ao verdadeiro objetivo do experimento a descoberta foi ainda mais assustadora. Pessoas foram “recrutadas”, s ã o os primórdios na verdade ent ã o n ã o havia comiss ã o de ética para avaliar a metodologia podendo-se de certa forma ser li

-UM JANEIRO QUALQUER

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Estou sufocando... A poeira grossa dentro dos meus pulm õ es me impede de respirar, o ar quente fora do meu corpo me arrasta fortemente ao abismo. Quero gritar, desejo isso com avidez e pânico, quero me entregar ao mar infinito para que me carregue suavemente em suas ondas descompromissadas, quero ser leve e poder respirar. Quero gritar, sei que tem um grito louco preso na garganta e n ã o sai, n ã o consigo, sinto aquelas m ã os grossas e enluvadas a sufocar-me. Desabafo e desabo em lagrimas quentes uma vez após outra, esperando sempre por alguma saída milagrosa, mas n ã o vem. Aquela esperada salva ç ã o tem tardado demais para mim, ao meu socorro nada acontece, apenas um dia fingindo correr, mas indo lentamente ap ó s o outro e um janeiro com 300 outros dias, o maior mês de uma vida inteira. Quero alcançar um despertar sem angustias, a alegria de um sorriso livre, desejo ardentemente como um fogo em brasa plena, um abrigo onde pousar. Tenho urgência de dias melhores, tenho uma esper

-O HOMEM INVISÍVEL

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Havia claro, um ritual a ser cumprido. Primeiro aleatoriamente passeamos em volta fazendo uma  pré-seleç ã o de onde exatamente aquela “ purifica ç ã o ” aconteceria. Segundo, depois de minuciosamente examinados, podemos decidir pelo primeiro que obviamente j á havia nos conquistado a primeira escutada. Entramos metodicamente escolhendo onde sentar, dando prioridade ao cantinho mais externo, mais ventilado, mas harmonioso com nosso clima de fuga da realidade. Bem que as pessoas usando cigarros recreativos, no fundo escuro do bar, próximo à praia n ã o fora uma escolha nossa, mas uma realidade atrelada de algum modo a   essa historia. O cantor até às 21h era sem dúvida uma das, mas n ã o a ú nica coisa boa. E digo isso porque a comida era horr í vel, o sabor do camar ã o era de uma angustia conflitante com a alegria que deveria habitar o prato, as batatas pretas, ao inv é s de fritas, tamb é m foram bem decepcionantes. Os copos que deviam ser de shop que eram de café de interior, a

HOJE NÃO

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... A mala empoeirada que guardava na garagem sendo bruscamente retirada liberando partículas de saudade velada pelo ambiente inteiro... O barulho repetitivo dos cabides batendo um contra o outro sendo empilhados com certa força e com certa pressão, o abre e fecha das portas do guarda-roupa cinza que batia contra a parede todo instante, as marcas de vinho no lençol branco, o cheiro de banho que saia pela janela dançando e mentindo sobre uma felicidade inexistente, o sol que entrava no quarto, seu perfume derramado no ambiente e o peso dos seus passos indo embora... Era só isso que me vinha à mente quando estava passando por aquela rua e inconscientemente olhava para cima, aquele prédio ‘Atlantis’, aquela velha senha do portão, aquele mesmo senhor sorrindo na entrada... Felizmente ou infelizmente nada mudara além de nós... Pensava até então que as quartas eram os melhores dias, até aquele dia que você deixou-me sozinha e seguiu após uma boa noite, em choque pensava num por que a voz